14/07/2008

Anima Mundi 2008


Começou na sexta-feira, 11 de julho, e pode ser visto até o dia 20, no Rio de Janeiro, o "Anima Mundi 2008", 16º edição do Festival Internacional de Animação, maior evento do gênero na América Latina.
Na programação deste ano estão incluídos mais de 400 filmes e vídeos brasileiros e de outros 41 países, divididas em várias categorias, entre elas "Curtas", "Longas-metragens" e "Curta Infantil". Haverá premiações, dadas por júris popular e profissional. As projeções acontecerão no CCBB-Rio (Cento Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro), Centro Cultural Correios, Cine Odeon BR, Cinema Estação Botafogo e Oi Futuro. Além das apresentações de filmes, o evento inclui workshops, palestras, instalação e performances. A mostra "Galeria" exibe animações não-convencionais ou experimentais. Em São Paulo, o evento terá início no dia 23 de julho e irá até o dia 27. Programação e mais informações no site: www.animamundi.com.br.

O design do arquiteto, o arquiteto do design.*


O ensino universitário do design dentro da escola de arquitetura e urbanismo é recente em nosso país.

Vale lembrar que no período colonial, o ensino sobre o construir, a arquitetura e as artes em geral ocorria pela prática na técnica transmitida profissionalmente e na relação mestre-aprendiz. Talvez a figura mais lembrada por nós nesta época seja a do Aleijadinho em Minas Gerais.

Mais tarde, por volta de 1820, surgiu a primeira escola brasileira de arquitetura no Rio de Janeiro, sob a influência da Missão Francesa e de seu arquiteto maior Grandjean de Montigny. Foi a única escola durante um século, no Império e na República. Foi ela quem precedeu a Escola Nacional de Belas Artes.

Em 1873, surge, em São Paulo, a Sociedade Propagadora da Instrução Popular visando ministrar o conhecimento profissional e que foi a raiz do Liceu de Artes e Ofícios, fundada em 1882. Pelo Liceu passaram vários membros atuantes, dentre eles a figura do Ramos de Azevedo que ministrava o curso de engenheiros arquitetos dentro da Escola Politécnica de Engenharia de São Paulo, de onde, mais tarde, surge finalmente o curso para arquitetos.

Decorre daqui, portanto, uma história do ensino da arquitetura no Brasil com duas vertentes: uma originária da Escola Nacional de Belas Artes (antiga Academia imperial), no Rio de Janeiro, e outra, da Escola Politécnica de São Paulo. Portanto, calcada ora na visão profissionalizante das belas artes, ora na confusão das atribuições do engenheiro e do arquiteto.

Assim é que, integrado aos movimentos artísticos nacionais e internacionais é que, aqui se estabelece vinculadas às intensas alterações populacionais, a industrialização e a visão cultural, uma história em pleno
desenvolvimento da Faculdade de Arquitetura e urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP, criada em 21 de junho de 1948.

É nesta escola, com os professores Luiz Ignácio Romero de Anhaia Mello, João Batista Villanova Artigas, dentretantos outros, é que o curso adquire um caráter de ofício engajado com as artes, as tecnologias com preocupações sociais coletivas e com o urbanismo.

Neste ambiente de extrema criatividade vocacionam-se profissionais diversos que ao longo destas décadas impulsionam o campo das artes e design em geral, na arquitetura e na cidade. Passam pela FAUUSP : João
Carlos Cauduro, Ludovico Martino, Lelé Chamma, Rafic Farah, Vicente Gil, Chico Homem de Melo, Sylvio Ulhôa, Ronald Kapaz, Giovanni Vannucci, André Poppovic, Kiko Farkas, Vicente Gil, Fernando Campana (dos irmãos Campana), Carlos Alberto Inácio Alexandre. Também fizeram a FAUUSP: Chico Buarque, Arrigo Barnabé, Wagner Tadeu Benatti, o Bitão (vocal dos Pholhas), Carlinhos"Bom Bril" Moreno, Thales Pan Chacon, Guilherme Arantes, Flávio Império, JC Serroni, , Newton Foot, Cláudio Tozzi, Luís Paulo Baravelli, Takashi Fukushima, Cristiano Mascaro, Tonico Ferreira ( repórter da Globo), dentre tantos.

O arquiteto multi vocacionado

O arquiteto é o profissional que intervém no espaço urbano, propondo sua ocupação e realizando mudanças
neste espaço. O caráter multidisciplinar da formação do arquiteto enseja atividades de compreensão do espaço
e o seu caráter sistêmico. Porém é interessante notar que, desde os primórdios, a ação do homem foi precedida
da ação de observar, de ver, de olhar. Só depois de compreendido o fato, de ter realizado a leitura é que se
estabeleceu a imaginabilidade, ou seja, realizou sua imagem mental. Daí veio a vontade de propor, conforme seu
desejo, seu desígnio, seu desenho.

O profissional arquiteto caracteriza-se pela atividade onde tem predomínio, eminentemente, o caráter projetual
com a realização de trabalhos ligados às soluções dos aspectos pragmáticos em diferentes campos de
abordagem, englobando aspectos sociais, históricos, tecnológicos, culturais e econômicos voltados aos
seguintes campos de abordagem:

1 Edificações e seu relacionamento com o entorno próximo; conjuntos de construções habitacionais, industriais,
de comércio e serviços ou de usos específicos;

2 Urbanismo, planejamento e organização de áreas urbanas, cidades e seus territórios de interação
metropolitana e regional, no contexto de sua produção e consumo, em suas estruturas sistêmicas e em seus
subsistemas: ocupação e utilização do solo, circulação, infra-estrutura, equipamentos, áreas de uso público,
paisagem e meio ambiente;

3 Imagens e mensagens visuais, aspectos da visualidade da cidade, do edifício e da comunicação visual
ambiental e da programação gráfica e;

4 Design dos objetos e produtos relacionados ao espaço arquitetônico, industrializáveis ou não, em seus
aspectos estéticos, ergonômicos e do planejamento de sua utilização;

Designer e arquiteto: arquiteto designer

É a formação do arquiteto pressupondo a preparação de um profissional com duplo perfil: por um lado,
conhecedor de procedimentos técnicos, científicos, artísticos e culturais que possibilitem sua atuação em campos
de grande diversificação; por outro lado, desenvolvedor de princípios e conhecimentos para a compreensão
política e econômica de uma sociedade globalizada.
Em uma visão mais específica, este profissional deverá conduzir-se frente a quatro linhas básicas que levem à:

1 promoção do equilíbrio estético-funcional entre beleza e praticidade;
2 realização de interfaces entre estética, economia, psicologia, sociologia e ergonomia;
3 organização de seus projetos desde a concepção até sua produtibilidade; e
4 viabilização técnica de todas as etapas de seu processo criativo.

Indicamos as seguintes habilidades e aptidões gerais que devem ser despertadas, incentivadas e lapidadas na
formação do arquiteto e urbanista:
Criatividade - desenvolvimento de habilidades e criatividades para a resolução de problemas e desafios
específicos;
Relacionabilidade - possuir visão crítica da importância do papel social e ambiental da atuação do arquiteto e
urbanista;
Sociabilidade - conscientização sobre a produção do arquiteto e urbanista enquanto fator de contribuição para a
melhoria social da qualidade de vida e meio-ambiente;
Comunicação - conhecer técnicas de tecnologias de transmissão e reflexão eficiente de informações, aplicativos e pesquisas; a comunicação sem fronteiras; a multiculturalidade; saber ouvir; saber falar;
Flexibilidade - adaptabilidades de conceitos para responder às demandas específicas de sua atuação;
Ética - participação ética ativa, esclarecedora e realista em todos os processos decisórios de suas atividades;
Iniciativa - espírito empreendedor habilitado à resolução de desafios plurais;
Multi culturalidades - habilidade para compreensão e respeito à pluralidade étnica e cultural decorrente do
intenso processo de globalização deste início de novo milênio;
Tecnologia - apreensão de novos sistemas, processos e tecnologias que preservem o meio-ambiente e
objetivem melhorar a qualidade de vida individual e comunitária.

Assim, o arquiteto deve ser um generalista apto a resolver contradições potenciais entre diferentes
requerimentos da arquitetura e urbanismo, respondendo às necessidades de abrigo da sociedade e dos
indivíduos, quanto a seus aspectos sociais, culturais, ambientais, éticos e estéticos. Deverá ser profissional apto
a compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos e comunidades compreendendo-os como
agente preponderante da construção da arquitetura e da cidade - com relação à concepção e organização do
espaço, do urbanismo, da construção de edifícios. A duração do curso de arquitetura é, em média, de cinco anos.

As áreas de atuação do arquiteto e urbanista requerem conhecimentos para resolução de questões específicas
de usa área de atuação nas seguintes áreas:

1 Projeto de arquitetura;
2 História e teoria de arquitetura, ciências humanas e tecnologia;
3 Artes;
4 Desenho urbano e planejamento;
5 Compreensão da paisagem urbana;
6 Contextualização;
7 Desempenho da edificação; e
8 Tecnologia da edificação.

A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo desenvolve o ensino e pesquisa através de seus três departamentos: Departamento de Projeto, Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto e o Departamento de Tecnologia da Arquitetura, onde atuam um corpo docente composto por cerca de 120 professores onde colaboram docentes da Escola Politécnica e do Instituto de Matemática e Estatística. Vale lembrar que se encontra em implantação junto a estes três departamentos, para funcionamento em 2005, o curso de Design.

A diversidade de disciplinas que estes três departamentos ministram pode ser mensurada pelos vários campos
que com compõem os grupos de:

1 Projeto de Edificações;
2 Planejamento Urbano e Regional;
3 Comunicação e Programação Visual;
4 Desenho Industrial;
5 Paisagem e Ambiente;
6 História da Arquitetura e Estética do Projeto;
7 Urbanização;
8 História da Arte;
9 História da Técnica;
10 Fundamentos Sociais da Arquitetura e Urbanismo;
11 Tecnologia da Construção;
12 Conforto Ambiental e Metodologia..

A FAUUSP possui um curso de pós-graduação stritu-sensu na área de Estruturas Ambientais Urbanas e área de
concentração específica: Design e Arquitetura nos níveis mestrado e doutorado. Tem também cursos de
extensão e de especialização em convênio com a Fundação para a Pesquisa Ambiental - FUPAM. Por precedência histórica e legal, o arquiteto e urbanista sempre foi um profissional capacitado ao desenvolvimento das atividades ligadas à organização dos espaços para a adequada satisfação das necessidades humanas. Esta organização compreende desde a concepção de soluções para as demandas específicas das espacialidades, essência da nobre arte de projetar até a sua efetiva viabilização, compreendida pela materialização do projeto, ou ainda, pela execução da sua obra.

Do ponto de vista legal, compete ao arquiteto e urbanista o exercício das atividades - de supervisão, orientação
técnica, coordenação, planejamento, projetos, especificações, direção, execução de obras, ensino, assessoria,
consultoria, vistoria, perícia, avaliação - referentes a edificações, conjuntos arquitetônicos e monumentos,
arquitetura de interiores, urbanismo, planejamento físico urbano e regional, desenvolvimento urbano e regional,
paisagismo e trânsito.

Portanto, um espectro bastante amplo que exige formação profissional em esforço capaz de qualificar o arquiteto
e urbanista na abrangência de suas competências legais, com o aprofundamento indispensável para que possa
assumir as responsabilidades nelas contidas e oferecidas pelo mercado de trabalho.

Porém o arquiteto do design, ou o arquiteto designer é profissional voltado a preocupar-se com a visualidade e
da imagem da arquitetura e da cidade, da correta disposição de elementos da paisagem urbana (mobiliário e
infra-estrutura, pele e paginação), propondo sua comunicação nos aspectos sinaléticos e equilíbrio visual, além da conservação e valorização do patrimônio construído, da proteção do equilíbrio natural e à utilização racional dos recursos disponíveis e que deve levar, sobretudo, avante o processo de construção de uma identidade do espaço do objeto, da arquitetura e da cidade com seu povo - nos seus processos e produção e consumo -
centrado na afirmação da solidariedade e no exercício da cidadania e voltado às demandas estruturais da
sociedade.

Arrisco citar algumas características e atributos de seu perfil profissional:

1 Utiliza-se dos princípios do design gráfico na arquitetura e no urbanismo: os campos de abordagem do Design
nas áreas: Ambiental, Corporativo, Editorial, Interativo, Tipográfico e Promocional. Possuidor, portanto, de
conhecimento crítico da imagem, linguagem e expressão do design no gráfico, editorial, publicitário, ambiental,
corporativo e do produto;

2 Objetivado para fortalecer os aspectos de sua identidade - desde os seus elementos, componentes até as soluções de organização visual e sua legibilidade - no espaço da arquitetura e da cidade, compreende a mensagem visual e sua interação com o espaço onde ela se insere e tem assim, consciência da importância do design nas ações projetuais que visam a requalificação do meio urbano;

3 Distingue dentro do design, os conceitos sistêmicos de programa de identidade visual (forma, função e uso), referenciando os componentes e os elementos teóricos básicos de linguagem e comunicação visual, o código de identidade visual e os elementos de expressão gráfica e fundamenta-se na construção do signo de comando: a marca (o logotipo, o símbolo e o pictograma); no alfabeto-padrão; nos códigos cromático, morfológico, tipográfico;

4 Participa, contemporaneamente, no processo de projetos digitais de produtos e modelagem de produtos e também de projetos digitais e modelagem de design visual. Para tanto, utiliza-se dos recursos de modelos físicos, maquete, mock-up , protótipo, prototipagem rápida e fotografia, vídeo e outros multi-meios.

Assim o arquiteto designer (egresso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) está capacitado a desenvolver projetos nas suas diversas configurações envolvendo a percepção e a concepção por meio da experimentação e observação (direta e/ou indireta), do desenho de espaços, dos projetos de prospecção sintâtico-teórica, dos modelos reduzidos, etc. através das linguagens que levam à compreensão que permite perceber e conceber a forma do espaço interior, da edificação e seus elementos, do espaço exterior imediato e do espaço exterior mediato.

Texto completo: http://www.arcoweb.com.br/debate/debate50.asp
Por favor, comentem sobre a o que acharam da discussão proposta.
Profa. Carol Gusmão




* Prof. Dr. Issao Minami
Arquiteto e Urbanista formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP, onde se mestrou e doutorou. Atualmente é professor doutor do curso de graduação e pós-graduação na FAUUSP, onde também é Coordenador do Grupo de Disciplinas de Programação Visual do Departamento de Projeto e membro eleito do Conselho do Departamento. É professor titular também na Universidade do Grande ABC -UniABC, onde leciona do curso de arquitetura e no curso de comunicação social. Escreve sobre artes e arquitetura para o jornal Nippobrasil. É autor de projeto de Sinalização Urbana para a Capital de Tocantins. Ganhou o primeiro prêmio no concurso de Idéias para a Sinalização do Edifício Birmann 21; recebeu menção honrosa na Premiação Anual dos Arquitetos IAB -SP 1997; foi premiado na III Bienal Internacional de Arquitetura; participou de equipe que recebeu menção honrosa no Concurso de Idéias para a Avenida Paulista; participou da equipe que recebeu o primeiro lugar no Concurso de Requalificação Ambiental e Paisagística para as Marginais dos Rios Tietê Pinheiros, em janeiro de 1999. Atualmente está desenvolvendo projeto de comunicação visual para a Itaipu Binacional dentro do denominado Complexo Ambiental e Turístico de Itaipu.) Vale a pena explicitar um pouco mais. Se me permitem, gostaria de, baseado na gênesis das atuações, considerar o que chamo de: O design do arquiteto, o arquiteto do design.